24 de outubro de 2010 | By: Fidelis di Luigi

A Travessia - Trabalho na África

Consultando o meu passaporte, verifiquei que no dia 22.07.90 fui transferido pela Construtora Norberto Odebrecht para a obra de Capanda, no Rio Kuanza, em Angola, África.

Assim em 23.07.90 fiz a minha 1ª travessia do Oceano Atlântico rumo a África. Viajando nesta oportunidade sem a família, passei por lá 3 meses em adaptação, verificações e arrumação.

Grande parte das minhas observações foi quanto a segurança... Visto que o País estava em plena guerra civil. Retornei ao Brasil seguro que tudo ia dar certo, apesar da guerra... Preparei a família e partimos para mais uma experiência de vida...

O vôo Varig, saindo do Rio, durante a noite, e chegou em Luanda ao amanhecer. A bordo, Eu, Conceição, Cláudia e Bárbara. Luciana não foi nesta ocasião, seguiu depois, ela relutava em seguir viajando e desejava permanecer mais tempo em um lugar próximo aos parentes.

A 1ª impressão de todos ao chegar: A cidade está em destruição ou construção? Aos poucos fomos percebendo como o País funcionava durante a guerra civil.

Recebidos pelo pessoal de apoio, após os tramites legais, nos levaram para a Vila residencial do "Gamek", este era o nome do órgão do governo angolano que construiu a barragem.

Anteriormente eu já havia recebido a nossa casa na vila e assim foi só entrar e viver... a nova casa, a nova experiência de vida.

Com pinceladas rápidas, descrevo a estrutura da Vila do Gamek. Localizava-se em uma grande área perto do Aeroporto, cercada e bem policiada, compondo de aproximadamente 1000 casas de diversos tipos em madeira, porém muito confortáveis, e vinha com o recheio completo (todos os móveis e eletrodomésticos) fornecido pela obra.

A mini cidade, que era a vila, tinha a disposição: Prefeitura, mercado, posto médico, clube com piscinas, teatro e boate, campo de futebol, restaurante, salão de festas, escola (Pitágoras), lagoa com água potável, torre de TV e telefonia completa, estação de tratamento de esgoto, salão de cabeleireiros, oficina para conserto em aparelhos eletrodoméstico e outros que não me vem a memória.

O hospital e a oficina de maquinas e veículos ficavam em outra área, bem como os armazém de mantimento, que atendiam também as famílias do pessoal Angolano que na obra trabalhavam.

A obra ficava a 400 Km da capital, e possuia uma outra grande estrutura de apoio com: Alojamentos, oficinas, restaurantes, escritórios, aeroporto etc... enfim, tudo necessário para uma obra deste porte.

A segurança era mantida pelo Exercito em 2 círculos de bloqueio e com mais de 5000 homens, mais frota de veículos de guerra, inclusive os Urutus brasileiros e os KT M. Benz , utilizados na proteção dos comboios de carretas Volvo que faziam a travessia por terra, abastecendo a obra.

Nossa permanência na obra era de 2ª a 6ª ficando os plantões. Chegávamos e saímos via Boing 737 e outros aviões menores em vôo fretado. A obra tinha 2 Bandeirante e helicópteros.

A meninada tinha uma vida quase normal, falávamos o português (Angola foi colonizada pelos portugueses) e a escola ocupava a maior parte do tempo, não ficando eles sem as diversões na Vila, como as festas, jogos desportivos, aniversários e outros.


Caruru do aniversário de Cláudia

No aniversário de Cláudia a mãe fez uma reunião, oferecendo um big carurú aos amigos, professores e colegas.

Já no aniversário de Bárbara, dei uma moto de presente, elas aprenderam a andar e como todos os jovens (outros tinham também) faziam nas ruas da Vila um maior auê.

Quando retornamos ao Brasil, vendi e ainda estou devendo esta a ela (Bárbara)... e olhe que me cobra !!!

Nosso 1º computador foi lá comprado, um Dell 236, com impressora, que também ocupava as meninas em tarefas escolares.

Mumuila
Aos domingos, tínhamos a disposição uma lancha para, em grupos, participar de passeios as ilhas da baía de Luanda... Isso tudo completado com um belo banho de mar, em águas limpas e cristalinas.

Na feira livre mais conhecida, a Roque Santeiro, conhecemos as "candongas" que são vendas a base de trocas. Outras feiras existiam como a de ferramentas e peça de carro, tudo em busca da sobrevivência!

Conceição e amigas sempre iam e gostava de comprar o que agradasse, não esquecia do meu uísque... Elas eram protegidas pelos angolanos amigos e pelas vendedoras da feira, onde faziam a troca de cerveja, roupas e outros utensílios por produtos de marfim, bebidas e artesanato.

Nas férias sempre retornávamos ao Brasil para rever nossos parentes e amigos. A saudade era grande!!

A remuneração compensava os riscos existentes e como resultado desta batalha travada na nossa vida, construímos nossa casa em Lauro de Freitas, na Bahia. Um patrimônio para nossa filhas e para termos uma velhice mais confortável.

Agradeço a Deus, a nossa família e ao amigo Ailton Morais e sua esposa Edna, o apoio e a oportunidade de concretizar com sucesso esta etapa na minha vida.

1 comentários:

Vivi Damásio disse...

Fidélis, foi muito interessante ler esse texto.
Que saudade deu de Angola.
Como você descreveu claramente a Vila!!!!